Hoje sou em ti e para ti...
Apenas uma pequena parte daquilo que um dia serei...
Hoje um botão...
Quem sabe um dia uma flor?!
Uma erva daninha...
Quem sabe um dia...
Reconhecida como especiaria que dá sabor?!...
Readentrando em ti para lhe trazer tempero...
Tirar o amargo da boca e deixar-te um gosto bom?!
Um tropeço...
Quem sabe um dia um caminho?!
Um pesadelo...
Quem sabe um dia...
Um sonho bom?!
Uma rosa repleta de espinhos...
Sangrando pelas raízes...
Contaminando solos...
Talvez um dia...
O adubo...
Um esterco fertilizante...
Sou aquela que te desespera...
E pela qual você tanto espera...
Sou a duna maldita que te faz comer poeira...
Sou o barranco que te soterra...
Sou a asa quebrada que te impede de voar...
Sou a ferida que purga...
A causa de você mancar...
Sou a catarata que te causa embaço...
Trazendo-te embaraço...
Sou o avião que te leva ao chão...
A doença contagiosa...
Para a qual não existe cura...
Sou o ódio...
Quem sabe um dia o perdão?!
Sou o rouxinol que te seduz e prende ao ninho do João-de-barro...
O ar que te sufoca...
A prisão que te liberta...
Sou mágoa...
Sou bondade...
Sou raiva...
E também piedade...
Sou a revolta e a paciência...
Sou a ingratidão e a consideração...
Sou um apelo de amor...
Ou um grito de dor?!...
Sou o apito inaudível...
Que nem mesmo os cães escutam...
Sou o pedido de socorro...
O ouvido medroso...
As costas e o abraço...
Sou sucesso e derrocada...
A sorte e o revés...
Sou o pássaro que mal escapou da gaiola e não tardou a ser almejado...
Servido à mesa dos mais necessitados...
De amor...
Compreensão...
E punição...
Sou a guerra e a destruição...
A paz e a redenção...
Sou a ganância...
A perdição e a vaidade...
Sou filantropo...
Represento o greenpeace e sou membro da ONU...
Sou você...
Sou eu...
Sou aquele que acaba de dobrar a esquina...
Sou seu passado...
Presente em seu futuro...
Sou mãe...
Sou madrasta...
Sou Penélope...
Sou Aquiles...
Sou a tempestade que destrói sua casa...
O construtor que te ajuda a se reerguer...
Sou as águas calmas e também os maremotos...
Sou a batalha e a bandeira branca...
Sou teu filho e teu pai...
Sou tua esposa...
Sou tua amante...
Sou noviça e meretriz...
Sou o cone e o escudo...
O acidente iminente...
A adaga...
O punhal e a espada...
Sou o sangue que te escorre...
A atadura que o estanca...
Sou a parteira cuidadosa...
E o diabólico açougueiro que te deu cabo ainda no ventre...
Sou a dívida e a cobrança...
A proeza e o prêmio...
Sou a gula e a fome...
A lágrima e o lenço...
O chão e o lençol...
A presa e o cão...
A tristeza e a satisfação...
Sou a alma que te incendeia e te embala...
O sopro da morte que te abala, amedronta e consome...
Sou a injustiça e a indulgência...
Sou a fratura e a calcificação...
O corpo vivo de onde brotam os vermes...
Sou a escopeta desmontada...
Cujas partes guardas na caixinha de música junto a foto de tua mãe...
Sou o paradoxo incoerente...
Escondido em sua mente descrente...
Sou a discrepância dos átomos emaranhados as células de sua natureza...
Encarnada em sua ações...
Passivas...
Tão pacíficas e cruéis...
Sou passional...
E também racional...
Sou a água que te leva à vida...
Lavando-te de tudo que não lhe é inerente...
Te afogando em pranto...
Te obrigando a renascer...
Sou a seca que te inutiliza as sementes...
Cozinha os miolos...
Que te faz ajoelhar em prece...
E mesmo assim...
Perder a colheita...
Sou a menina a que um dia seguiu na rua, desrespeitando com palavras indecorosas...
A mulher a quem protegeu...
O garoto que em um malfadado dia esbofeteou sem causa ou motivo algum...
O homem a quem perdoou e deste nova chance...
Sou aquele que você salvou...
A vela que você soprou...
A lâmpada que te acendeu...
O interruptor que um dia te apagará...
Sou seu câncer e sua cura...
A seta e o ponteiro...
A balança e a ilusão...
Sou quem nem sempre lhe dá o que desejas...
Bom pra ti, que sempre foste imprudente...
Sou o giz que se quebra ao encontro da lousa...
A caneta e o tinteiro...
O punho e o papel...
Sou a agonia diante da ignorância...
Apenas um pastor repleto de ovelhas...
Dóceis e sujeitas a tudo!
Enviei-te uma bóia e a deixaste escapulir...
Mandei-te aviso por uma pomba e esmagaste seu crânio...
Me conhecem como VIDA...
Mas...
Me apresento a ti por hora...
Como vitória e derrota...
Cegueira e visão...
Saibas que sou carinho...
Mas nem sempre compaixão!
Simone Tavares
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